terça-feira, 30 de setembro de 2008

A comunicação e a opinião pública


O mundo é totalmente permeado pela comunicação; em qualquer lugar e a todo o momento, a convivência entre as pessoas é balizada pela utilização de símbolos. O homem é, por natureza, um ser que comunica. A informação é uma necessidade do ser humano. A comunicação antigamente poderia não ser tão relevante quanto hoje, considerando que as pessoas tinham que aprender a manipular uma foice, ou um machado para progredirem. Entretanto, nos dias de hoje ela é essencial, a informação tornou-se “uma urgência primordial”, como afirma Souza(1996, p. 179). O homem moderno, em sua plenitude, é aquele que está sempre bem informado e atualizado permanentemente.

Baseado nesta premissa, Guareschi et al(2001) acreditam que a realidade é construída pela comunicação:

(...) na linguagem do dia-a-dia já se podem ouvir frases como estas: ‘Já acabou a greve? ’ e se alguém pergunta por que, a resposta é: ‘Deve ter acabado, pois o jornal não diz mais nada... ’ A conclusão a que chegamos é a de que uma coisa existe, ou deixa de existir na medida em que é comunicada, veiculada (Guareschi et al, 2001, p.14).

A percepção dessa realidade ocorre através dos meios de comunicação que, para esses mesmos autores, representam instrumentos técnicos de liderança, por serem usados por formuladores de teorias que visam realização profissional e reconhecimento:

(...) isso ajuda a compreender porque a visão de mundo platônica é difícil de imaginar e impossível de reproduzir hoje em dia: dedicar-se ao conhecimento sem pretender objetivos práticos ou prestígio social nos soa tão absurdo quanto disputar olimpíadas sem adversários ou platéias; ter religião sem liturgia ou fiéis. (Guareschi et al, 2001, p.15)

Dessa maneira, aquele que tem a palavra detém o poder da formação da opinião pública. Isto é, controla a opinião da “imensa pasta humana conformada por mensagens ditadas pelo poder”, completa Lage(1998, p. 15), que faz uma analogia, para designar o que é a massa.

As eleições são um exemplo da importância dos meios de comunicação junto à opinião pública. Grande parte dos candidatos que estavam ligados a algum meio de comunicação como televisão ou rádio, foram eleitos, afirma Lage(1998). Apenas 5 a 10% dos candidatos que não eram comunicadores se elegiam. Tal fenômeno é facilmente explicado em uma sociedade silenciosa como a do povo brasileiro, num país onde a desigualdade social impera e poucos possuem oportunidade de dizer o que pensam e ser ouvidos. “Apenas alguns têm voz e vez, o simples fato de ter um nome conhecido já é critério suficiente para que a pessoa mereça fé e se torne merecedora de voto” LAGE(1998, p. 101).

Segundo Guaresch et al.(2001, p. 15), “o crescimento e a abrangência dos meios de comunicação e informação estão, claramente, desbancando e relativando o controle exercido por outras instituições, como a escola, as igrejas, a família etc.”. Sob a ótica de Champagne(1981), estas instituições formam um julgamento coletivo, porém, está sendo depauperado pela influência exercida através dos meios de comunicação que, por sua vez, são formadores de opinião.

Sendo assim, novos julgamentos ou pontos-de-vista são formados. “A comunicação está forjando os novos professores, os novos sábios, os novos mestres da verdade e da moralidade” (Guaresch et al, 2001, p.15).

Após a Segunda Guerra Mundial, a difusão maciça das mensagens passou a ser chamada pelo termo mass media. Souza (1996, p. 6) explica que este neologismo significa, de acordo com sua origem anglolatina, meios de massa e que, por serem destinados a um público amplo, fazem com que a informação tome proporções enormes.

De acordo com Souza (1996), os meios de comunicação de massa, representados pelo jornal, a revista, o rádio, a televisão etc., despersonalizam a mensagem e contribui para a uniformização da cultura e para o nivelamento das pessoas.


Renata Marques

(...) pela onda luminosa, leva o tempo de um raio(...)


PARABOLICAMARÁ



Antes mundo era pequeno

Porque Terra era grande

Hoje mundo é muito grande

Porque Terra é pequena

Do tamanho da antena parabolicamará

Ê, volta do mundo, camará

Ê ê, mundo dá volta, camará

Antes longe era distante

Perto, só quando dava

Quando muito, ali defronte

E o horizonte acabava

Hoje lá trás dos montes, den de casa, camará

Ê, volta do mundo, camará

Ê ê, mundo dá volta, camará

De jangada leva uma eternidade

De saveiro leva uma encarnação

Pela onda luminosa

Leva o tempo de um raio

Tempo que levava Rosa

Pra aprumar o balaio

Quando sentia que o balaio ia escorregar

Ê, volta do mundo, camará

Ê ê, mundo dá volta, camará

Esse tempo nunca passa

Não é de ontem nem de hoje

Mora no som da cabaça

Nem tá preso nem foge

No instante que tange o berimbau, meu camará

Ê, volta do mundo, camará

Ê ê, mundo dá volta, camará

De jangada leva uma eternidade

De saveiro leva uma encarnação

De avião, o tempo de uma saudade

Esse tempo não tem rédea

Vem nas asas do vento

O momento da tragédia Chico, Ferreira e Bento

Só souberam na hora do destino apresentar

Ê, volta do mundo, camará

Ê ê, mundo dá volta, camará


Gilberto Gil

EU ETIQUETA


Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comparo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.

Carlos Drummond de Andrade